sábado, 30 de outubro de 2010

O CANTO DA MINHA SERRA











Nois gostava da serra, nas fuga, se embrenhava na mata, lá pras bandas da Capuava.
Os antigo tinham muitas estória, muitos mistérios que acercava essas mata.
Eu ouvia, desdenhava, inté caçoava, até que um dia eu me aventurei sozinha na meio da mata
da Pedra Branca, desapercebido andava na trilha e batia com um lasca de madeira que achei no caminho em tudo quanto é tronco de árvore grande, coisa de criança.Pois num é, que de repente eu deparei com um coisa, meio visagem meio gente, meio bicho, logo veio na minha cabeça.
É Pai-da-mata! , ele me perguntou com voz de trovoada:
- Tu tem fumo pro meu pito?
- Tenho não, respondi com voz tremendo.
-Então porque me apertubou,apontando para o pedaço de pau que eu carregava .Emudeci, ele deu as costas e num salto sumiu, nunca mais caçoei das estórias dos antigo, e tinha sempre de algibeira um naco de fumo, bem tratado, por conta de qualquer ocasião especial. Nunca mais deparei com Pai-da-mata.
Nos veeiros, nas vertentes, nos corguinhos e nos ribeirões nunca faltava água , era de fartura,
lá na cachoeira as rezadeiras conversavam com Nanã e Oxum, elas falavam as língua das águas, nois num entendia , mas eu gostava.Ali mesmo na cachoeira tinha muita pedra preta, os antigo chamava pedra ferro, nois batia uma contra outra , elas faiscavam, as veis eu e os minino na boca da noite saia e se escondia na capoeira, já quase escuro, quando passava gente nos batia as pedra que fuzilavam faisca, quem quer que fosse corria, e nois na farra se ria, depois tudo virava estória de visage, de sulfragente, alma penada, o povo tinha muita crença, e se valia na fé!
Hoje a água ta acabando, a mata ta tombando, diz que inté Pai-da-mata foi pra cidade, virou xamã. Como faz falta o canto daquela minha serra.
JULIO CESAR DA COSTA

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