domingo, 31 de outubro de 2010

A CAÇADA




Essa história aqui começa a cerca de dez décadas, conforme veio Até mim através das gerações, onde a prosa era bem quista sem nenhum estupor e um causo bem contado , esse sim tinha seu valor. No tempo que antece as telecomunicações, dizem que era época santa, final de quaresma, reuniram a cachorrada, no farné farinha branca e carne tratada, sairam em ruma de uma caçada.
As matas eram dez vezes mais fechadas e os bicho se abatia tal qual à apreciação, depois de certa caminhada o grupo se dividio de acordo com a cachorrada, cada um tomou destino de trepeiro, seva adiantada.
Assim se viu compade Izaltino e mais dois companheiros no alto do trepeiro, o ato intolerante da espreita é a virtude de bom caçador, paciente, junto à lamparina de carboreto, cheiro expressivo e espingarda em punho. O outro grupo tomara seu destino e já não se ouvia o ladrar dos cães, o silêncio da mata era absoluto, tal qual a penumbra de noite estendida sem lua. As horas passavam e nada de bicho, sequer um movimento, nada. De repente ouve-se na distância um
som indecifrável, qualquer coisa como tambores, caixas, adulfos, sim, música, era música. Compadre Izaltino crente da estranheza de tal fato indagou junto aos companheiros:
-Cês tão ouvindo o que eu tô, ou a marvada da cachaça me pegô desprecavido?
Os campanheiros também surpresos confirmavam que ouviam, acenando com a cabeça. Agora o som variava, as vezes mais nítido, outra vez menos audível, mas trazia a impressão clara do que quer que fosse se aproximava. Compadre Izaltino manteve-se impassível enquanto os companheiros depois de chamarem por Bom Jesus despencaram do trepeiro e partiram em disparada. De onde viria a tal música, num sertão desabitado?
não se sabia, mas o medo e a curiosidade tomaram conta do compadre que permaneceu quieto no trepeiro.
Pouco a frente ele já avistava um grupo carregando tochas de fogo, logo atrás vinha outro grupo de negros e negras, tocavam e dançavam uma espécie de congada ao som contagiante de uma música que encantava. Passaram pela picada sob o trepeiro sem olhar para cima, depois de alguns minutos desapareceram com toda a luz e som. Compadre Izaltino controlando a tremedeira balbuciava credos e outras rezas. Passado o susto desceu do trepeiro e rumou para a choupana .
Por muitos e muitos anos relatou tal episódio, foi motivo de chacota, "conversa de caçadó" diziam, porém nunca mais até o dia de sua morte, isso para muitos ,gerou espanto, se aventurou em caçada em época de dia santo.
Julio Cesar da Costa

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