Morena surgiu na varanda
Da casa das quatro jinela
Eu quase corri foi de banda
Mais inda num sei quem é ela!
Sua image sumiu no ladrilho
Deixou-me sem eira e nem beira
Seu aroma recende um trilho
Furtivo além da cumeeira .
Meu Deus! Mas será que é visagem
As claras num vejo essa prenda
Oculta naquela paragem
Mistério que ninguém desvenda.
Mas ontem na noite estrelada
Um canto ouvi lá da alcova
Sorrindo ao ser espiada
Cantava uma lúgubre trova
Meu peito sem encheu de alegria
Convicto de tal existência
Olhava o solar todo o dia
Seu rosto era a reminiscência
Saudaí-vos que a noite é de festa
E a valsa avassala o salão
E um rosto que a mim manifesta
Na varanda lá do casarão
Me diga sua graça ó donzela
Que ao tempo eu corro a contar
Pintastes meu céu de aquarela
Encantado não sei relutar!
-Minha graça é Ana mucama
Meu destino aqui é servir
Certas noites estou feito dama
Não careces por mim intervir
Sou gente de além do mar
Sou como uma velha mobilha
Me resta só este solar
Tratam-me aqui como filha!
Morena sumiu da varanda
Da casa das quatro jinela
É de terras de lá de aruanda
Agora já sei quem é ela
Passaram-se dias e luas
A água baixou e subiu
As pedras das ruas estão nuas
Mas Ana morena sumiu!
O tempo que é dono da vida
E arruma tudo em seu lugar
Rasgando e fechando a ferida
Tateando nem dá pra notar
Outrora no encalço do dia
Jazigo eu fui visitar
O olho aberto eu não via
O que tentava mostrar
Um vento cobriu-me ao véu
A moça na foto serena
Na parede lá do Mausoléu
Era a minha Ana morena
Um raio partiu o meu peito
Um fel minha boca trancou
E nunca me dei por refeito
E um elo da vida fechou.
JULIO CESAR COSTA 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário