segunda-feira, 10 de maio de 2010

A MUCANA DO SOLAR

Morena surgiu na varanda
Da casa das quatro jinela
Eu quase corri foi de banda
Mais inda num sei quem é ela!

Sua image sumiu no ladrilho
Deixou-me sem eira e nem beira
Seu aroma recende um trilho
Furtivo além da cumeeira .

Meu Deus! Mas será que é visagem
As claras num vejo essa prenda
Oculta naquela paragem
Mistério que ninguém desvenda.

Mas ontem na noite estrelada
Um canto ouvi lá da alcova
Sorrindo ao ser espiada
Cantava uma lúgubre trova

Meu peito sem encheu de alegria
Convicto de tal existência
Olhava o solar todo o dia
Seu rosto era a reminiscência

Saudaí-vos que a noite é de festa
E a valsa avassala o salão
E um rosto que a mim manifesta
Na varanda lá do casarão

Me diga sua graça ó donzela
Que ao tempo eu corro a contar
Pintastes meu céu de aquarela
Encantado não sei relutar!

-Minha graça é Ana mucama
Meu destino aqui é servir
Certas noites estou feito dama
Não careces por mim intervir

Sou gente de além do mar
Sou como uma velha mobilha
Me resta só este solar
Tratam-me aqui como filha!


Morena sumiu da varanda
Da casa das quatro jinela
É de terras de lá de aruanda
Agora já sei quem é ela

Passaram-se dias e luas
A água baixou e subiu
As pedras das ruas estão nuas
Mas Ana morena sumiu!

O tempo que é dono da vida
E arruma tudo em seu lugar
Rasgando e fechando a ferida
Tateando nem dá pra notar


Outrora no encalço do dia
Jazigo eu fui visitar
O olho aberto eu não via
O que tentava mostrar

Um vento cobriu-me ao véu
A moça na foto serena
Na parede lá do Mausoléu
Era a minha Ana morena

Um raio partiu o meu peito
Um fel minha boca trancou
E nunca me dei por refeito
E um elo da vida fechou.

JULIO CESAR COSTA 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário